quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Diálogos com o homem que mora no meu cérebro - Sobre a Madrugada


Nunca entendi e jamais vou entender o motivo pelo qual funciono muito melhor de madrugada.

Geralmente isso é um hábito adquirido. Você dorme tarde e vai acumulando uso a um ponto em que acaba dormindo mais de dia que de noite. 
Isso acontece muito no ensino médio e faculdade, normalmente acabando quando você arranja um emprego e vira um cidadão que contribui para o PIB.

Mas por alguma razão comogo nunca foi assim. Mesmo quando eu era um garoto e tinha horário pra dormir e acordar, não seguia a regra que nosso sistema solar nos impôs. A madrugada sempre me pareceu muito mais interessante.

Graças ao hábito notívago, pude aproveitar noites com a TV ligada em um volume mínimo, para não acorda meus pais, vendo clássicos filmes no intercine e me perguntando quem liga para escolher entre um filme genérico e outro genérico com putaria (desnecessário dizer que a opção com putaria sempre ganhava). 

Foi daí que a Madrugada começou a moldar meu caráter. Foi nela que vi filmes como A Mosca, alien 3 (um filme foda subestimado se me perguntarem), robocop, máquina mortífera e outros tantos filmes que a Globo decidiu jogar para um horário onde só eu e alguma outra pessoa igualmente desocupada assistíamos.

Com a idade a madrugada foi se tornando mais interessante. Era o horário de jogar videogames no meio da semana. De ler livros legais e quadrinhos. Até de assistir uma putaria (se estivesse passando ou você tivesse conseguido um VHS ou DVD por milagre), mas sempre respeitando a regra do volume baixo pra não acordar ninguém. Afinal, a escola começava sete e meia da manhã.

A vida adulta chegou e o namorico com a madrugada tornou-se um relacionamento voraz. Jamais me acostumei com a manhã e o fato dela ter saído do colégio para lugares onde eu receberia pouco dinheiro para fazer um trabalho muitas vezes mediano. Com sorte eu arranjei alguns trabalhos vespertinos, mas nunca foi a mesma coisa, sabe?

O período da tarde sempre me pareceu o que deve ser o período pré sono para a maioria das pessoas. Não que eu pretendesse dormir de tarde, ora diabos, de tarde era quando eu tinha acabado de acordar. 

Mas a maioria das pessoas antes de dormir só quer colocar em um canal aleatório, talvez assistir um filme e depois descansar. É quase como um espaço morto que você ocupa antes de tirar aquela pestana, um espaço morto que você ocupa por obrigação pra não dizer que deitou olhando pro teto durante duas horas. 

Pra mim essa é a tarde. Como uma espécie de esquenta para a minha doce e bela madrugada.

Como uma amante voraz, a madrugada me inspira a ser o melhor. Quando o ponteiro bate a meia noite quero ser Mozart, quero ser Jack Nickolson, escrever como Bukowsky e produzir musicas como se estivesse na Motow das décadas de 70/80. Quero ir à lua em um foguete que eu mesmo construí, visitar Marty Mcfly em um DeLorean cromado. Quero dirigir filmes como Spielberg e Tarantino. Quero ser um rei é um rebelde. 

Mas a sociedade impôs seu preço sobre meu amor por estar acordado tarde da noite. Aos raios de sol e canto dos pássaros, quando todos acordam, eu me canso. Não tem mais Bukowksky nem Tarantino. De dia só quero dormir... Aguardando pela chegada de mais uma madrugada